quinta-feira, 10 de março de 2011

Quem tem medo de Ler?

Duas perspectivas para reflectir e debater:
1
"Afinal, as pessoas gostam mesmo de ler textos em ecrãs. E há mesmo quem admita que prefere ler livros num telemóvel, num computador ou num leitor especializado em e-books, em detrimento das versões impressas em papel. As conclusões pertencem a um estudo da iModerate Research Technologies e da Brock Associates, onde se revela que 66% dos donos de máquinas digitais passaram a ler mais livros, devido à facilidade de download, à comodidade ou à «omnipresença» dos dispositivos digitais. O estudo (...) apurou ainda que 46% dos utilizadores não só passaram a ler mais textos em ecrãs, como também sentiram maior vontade em ler textos... impressoa em papel".
Hugo Pereira, in revista"Os Meus Livros", nº 96, Março de 2011, p. 51
2
"Para ler, ler seriamente, tem de haver determinadas condições (...).
Para ler seriamente é preciso silêncio(...). Tem de saber viver, e conviver, com o silêncio. (Cada vez menos jovens querem viver com o silêncio. Na realidade, têm-lhe medo. O silêncio tornou-se, de resto, muito caro... Vivemos num inferno de ruído constante).
Tem de estar preparado para (...) saber passagens de cor. Aquilo que amamos , devemo-lo saber de cor. Não é por acaso que «coração» em latim é «cor»(...).  Saber, saborear, de cor, com o coração, não com a cabeça.
Precisa de ter alguma, considerável, privacidade. Esta última condição é tremenda, provavelmente a mais difícil. Actualmente, a privacidade é o inimigo nº 1 de todo o jovem, adolescente, etc. Não só se confessa tudo a toda a gente, como é imperativo que o façamos imediatamente. Ninguém guarda a experiência, qualquer que ela seja, só para si.
(...)
O problema do colapso económico pode ter consequências muito boas. Quando as coisas estão mal, muito mal, as pessoas começam a ler com seriedade, a ler melhor, e os jovens a ter fome de algo mais substancial do que a pastilha elástica momentânea da pop. Já foi assim".
George Steiner, entrevista publicada na revista LER, nº 100, Março 2011, p. 31
"Um dos nossos mestres num mundo que, por puro ressentimento e por desmazelo e indigência, rejeita cada vez mais a categoria de mestre", Francisco José Viegas, in revista LER, nº 100, Março 2011, p. 31